De acordo a constituição da Organização Mundial de Saúde, o conceito de saúde, mais do que ausência de doença, representa uma situação de completo bem-estar físico, mental e social. Um conceito amplo, dependente dos contextos sociais, culturais e políticos de cada indivíduo, mas que é o ponto de partida para promover uma boa qualidade de vida. No entanto, o bem-estar da população não pode ser visto como um dado adquirido, uma vez que para muitos o acesso a certos cuidados de saúde pode ser um desafio.
Portugal: um país envelhecido
Antes de mais convém considerar que Portugal está a envelhecer. Em 2020, a Euromonitor Internacional e a Ageing Europe consideravam Portugal como o 5º país mais envelhecido do mundo, com a previsão de nenhum outro país da União Europeia ser tão envelhecido em 2050 como Portugal. Por cada 100 jovens, existem neste momento 147 idosos, segundo dados do Instituto Nacional de Estatística, e em 2080 esse número passará para 317 idosos por 100 jovens.
O aumento do índice de envelhecimento devia preocupar os governos e levar à criação de políticas que colmatasse este desnível populacional bem como estratégias capazes de proporcionar conforto e condições de vida à medida que se envelhece, no entanto é algo que ainda não se verifica. As pessoas estão a viver mais tempo e muitas delas com incapacidades, com a diminuição da sua autonomia e das suas funcionalidades, diagnósticos que são, em muitos casos, crónicos.
É neste sentido que se percebe a necessidade e a importância da reabilitação na recuperação, prevenção e promoção da saúde. O que, consequentemente, leva a uma melhoria na qualidade de vida da população, não só da mais envelhecida, mas da população no geral.
A importância da reabilitação
O conceito de reabilitação refere-se ao conjunto de intervenções concebidas para otimizar o funcionamento e reduzir a incapacidade de indivíduos em interação com o seu ambiente diário. O número de pessoas que poderia beneficiar de reabilitação faz-nos pensar: segundo estudos, são, aproximadamente, 2410 milhões de pessoas, o que se traduz por uma em cada três pessoas que poderia beneficiar de reabilitação em algum momento da sua vida.
Apesar de ser fundamental, a reabilitação é muitas vezes colocada para segundo plano, sendo que o recurso a medicamentos e a cirurgias surge como primeira opção. As vantagens da reabilitação como a redução no número, na duração e nos custos de hospitalizações, deviam ser por si só motivo suficiente para a tornar uma prioridade, fazendo com que a sua integração nos cuidados de saúde fosse acessível a todos. Mas, apesar dos estudos que demonstram a sua importância, os centros de reabilitação, vistos como um serviços dispendiosos e especializados, são de difícil acesso à maioria da população que necessita deste tipo de cuidados. A juntar a este panorama, deparamo-nos com as sequelas que a Covid-19 provocou.
Em dezembro de 2019, o mundo tal como o conhecíamos enfrentou um obstáculo invisível que veio pôr em causa muito daquilo que julgávamos saber e que ainda hoje têm repercussões impactantes. Mais do que uma condição patológica, a Covid-19 alterou os estilos e os hábitos de vida da população. Veio fragilizar uma sociedade que já apresentava uma elevada taxa de necessidades não atendidas, com as medidas tomadas os serviços de saúde sofreram reestruturações, profissionais de saúde foram mobilizados para outras áreas, as cirurgias, consultas e tratamentos foram cancelados, incluindo de reabilitação.
Os danos a longo prazo não são ainda conhecidos na totalidade, mas prevê-se que os pacientes infetados com Covid-19 sofram complicações músculo-esqueléticas, devido ao processo inflamatório agravado pela perda de massa muscular consequência dos períodos de imobilidade, gerando deficiências motoras ainda não quantificáveis. Estima-se que 45% dos pacientes com alta hospitalar necessitarão de cuidados de saúde e assistência social e 4% necessitarão de um programa de reabilitação.
A Covid-19 afeta vários sistemas do organismo e, como tal, em certos casos exigirá a necessidade da intervenção de uma equipa multidisciplinar que permita a recuperação dos seus efeitos cognitivos, respiratórios, físicos e psicológicos.
O atraso na reabilitação está associado a uma maior probabilidade de incapacidade a longo prazo, com prejuízos que podem ser irreversíveis para a qualidade de vida e integração social dos pacientes.
Os cuidados de saúde ao domicílio como solução
Por outro lado, algo que a pandemia veio reforçar foi a necessidade dos cuidados de saúde ao domicílio. Não só garantem a qualidade dos tratamentos, como possibilitam uma terapia diferenciada, adequada às necessidades, no conforto e bem-estar da residência dos pacientes, reduzindo as complicações relacionadas com infecções em meio hospitalar, os constrangimentos logísticos e as despesas associadas.
Esta conjuntura trouxe-nos ao ponto em que nos encontramos hoje: à criação de uma estrutura capaz de responder às adversidades que a população enfrenta. A DCRFuncional diferencia-se dos seus parceiros por permitir que uma equipa multidisciplinar leve a casa dos seus utentes os cuidados de saúde que necessitam, algo que será explicado com mais detalhes nas próximas publicações.
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