As crianças podem ser agitadas ou distraídas em certas ocasiões e estão simplesmente a ser crianças. Mas quando estes comportamentos afetam de forma significativa a sua vida escolar, familiar e social podemos estar perante a Perturbação de Hiperatividade e Défice de Atenção (PHDA). A PHDA é uma das perturbações do neurodesenvolvimento mais frequentes em idade pediátrica, sabendo hoje em dia que este quadro se mantém até à idade adulta em muitos dos casos. É uma patologia complexa e multifatorial, com grande impacto no indivíduo, na família, nas relações e no ajustamento psicossocial. O diagnóstico e intervenção precoces nos quadros de PHDA podem reduzir a intensidade dos sintomas, melhorar o rendimento escolar e laboral, facilitar a integração social e diminuir a ocorrência de outras perturbações, que frequentemente se associam.

O que é?
É uma perturbação do neurodesenvolvimento caracterizada pela presença de três grupos de sintomas:
Défice de atenção, isto é, a dificuldade em manter a atenção e pouca persistência para a realização das tarefas que exijam esforço mental;
Hiperatividade, agitação motora excessiva e desadequada em relação ao que era esperado para a idade; dificuldade em permanecer sentado, sossegado ou calado quando é necessário; necessidade de estar constantemente em movimento ou a fazer alguma coisa;
Impulsividade, dificuldade em gerir e controlar os impulsos, em esperar pela sua vez, passagem rápida ao ato sem refletir nas consequências e em esperar pela recompensa.
Estes sintomas terão de persistir pelo menos durante seis meses, em dois ou mais contextos (casa e escola, por exemplo), ser inconsistentes com a idade e o nível de desenvolvimento do indivíduo e interferir significativamente com o seu funcionamento. Frequentemente são associados, erradamente, à preguiça, falta de empenho ou imaturidade.
Secundariamente, podem associar-se outros sintomas com importante impacto prognóstico:
Ineficácia na realização das tarefas;
Insucesso académico ou profissional;
Baixa tolerância à frustração;
Baixa autoestima;
Labilidade emocional;
Isolamento social, e;
Exposição a situações de risco (acidentes de viação, abuso de substâncias).
O diagnóstico formal de PHDA exige a abordagem por uma equipa multidisciplinar experiente, incluindo um pediatra do desenvolvimento e/ou neuropediatra, por vezes um psicólogo (nomeadamente quando se suspeita de perturbações específicas da aprendizagem ou défice cognitivo associados) e um pedopsiquiatra (sobretudo perante alterações graves do comportamento, comportamentos bizarros e agressividade excessiva).
Cerca de um terço a 60% das crianças com PHDA apresentam outras comorbilidades. As mais frequentes são:
Perturbação Desafiante de Oposição
Perturbação da Aprendizagem Específica
Perturbação do Comportamento
Perturbações de Ansiedade
Perturbações Depressivas
A sua presença agrava o quadro clínico, dificulta o diagnóstico e a abordagem terapêutica da PHDA, devendo ser ativamente pesquisada. O tratamento da PHDA implica, habitualmente, a associação de terapêutica farmacológica e intervenções psicossociais e comportamentais. É igualmente muito importante a psico-educação dos pais acerca da patologia.
Estratégias para lidar com crianças com PHDA
Tanto em casa como na escola deve existir estratégias de planeamento, organização e comunicação adequadas às crianças. Como referido anteriormente, as crianças com PHDA poderão evidenciar dificuldades acrescidas em planificar tarefas e refletir antes de agir. Desse modo, as rotinas funcionarão como bons elementos, para facilitar e minimizar a probabilidade de ocorrência de conflitos e contribuem para um maior cumprimento e sucesso das tarefas de todos os membros do agregado familiar. Por sua vez, a comunicação é fundamental, nomeadamente para mediar a gestão das emoções e/ou dos comportamentos da criança.
PHDA no adulto
Nas décadas mais recentes, a ideia de que apenas crianças e adolescentes podem sofrer de PHDA foi abandonada. Num relatório da OMS é estimada uma prevalência de 3% de PHDA no adulto em Portugal, com 56,3% dos casos diagnosticados na idade pediátrica a persistirem na idade adulta.
No adulto, a PHDA conduz a:
Baixa produtividade no trabalho:
não consegue finalizar as tarefas dentro do prazo;
inicia novas tarefas sem terminar as anteriores, acabando por não terminar nenhuma delas;
esquece-se de assuntos, recados ou reuniões;
dificuldades em manter a atenção nas atividades, distraindo-se facilmente perante outros estímulos;
evita ou procrastina a realização de tarefas que considera desinteressantes, monótonas ou cognitivamente mais exigentes;
dificuldades no planeamento e organização das atividades;
mudança frequente de emprego ou de curso universitário (desiste após os primeiros meses/anos).
Alterações emocionais e sociais:
baixa autoestima;
sintomas depressivos e/ou ansiosos;
dificuldades na regulação emocional;
dificuldades nas relações sociais com o grupo de pares e/ou familiares;
dificuldades em fazer e manter as amizades;
algum isolamento social;
reduzida qualidade de vida;
dificuldades nas relações amorosas;
conflito conjugal e/ou separação/divórcio.
Abuso e/ou dependência de substâncias ou atividades:
substâncias (por exemplo, tabaco, álcool, marijuana, cocaína, heroína, açúcar);
atividades (por exemplo, videojogos, jogos de azar).
Outros comportamentos disruptivos:
impulsividade e/ou agressividade (verbal e/ou física);
frequentes acidentes de automóvel, bicicleta, etc.;
lesões físicas devido a acidentes e/ou à impulsividade;
envolvimento em situações antissociais e/ou criminais
Presença de outras perturbações.