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A importância do puzzle para o desenvolvimento de competências

Construir um puzzle é uma atividade que encaramos com alguma naturalidade. Desde a sua forma mais simples até à sua forma mais complexa, apresenta-se numa variedade de feitios que contribuem para aprender sobre diversos temas. Além de serem usados para entretenimento podem simultaneamente ter um papel pedagógico. Neste artigo, fique a conhecer as várias competências desenvolvidas na construção de um puzzle.



O puzzle representa uma atividade relevante no desenvolvimento e estimulação quer no adulto/idoso quer na criança. Ao trabalhar com crianças, recorrer à brincadeira é uma importante ferramenta de trabalho. O brincar é a principal ocupação das crianças e os puzzles podem ser um instrumento para trabalhar competências sensoriais e motoras essenciais ao desenvolvimento adequado à idade, ao desempenho escolar e à participação satisfatória nas atividades da vida diária. Em especial com crianças com perturbações diversas nomeadamente atraso de desenvolvimento, dificuldades de aprendizagem, disfunções de integração sensorial, em hiperatividade e défice de atenção, perturbação do espetro do autismo.


No caso do adulto/idoso, recorrer ao puzzle pode ser uma estratégia de estimulação cognitiva. Pode ajudar a exercitar o cérebro e potencializar a aprendizagem ao longo do envelhecimento, estimulando os indivíduos nas diferentes fases da vida. Desse modo, é possível manter algumas funções como por exemplo a memória e, assim, garantir maior qualidade de vida.


Quais as competências desenvolvidas ao construir um puzzle?

Segundo a terapia ocupacional, área que tem como objetivo manter a independência e a autonomia dos utentes, a construção de um puzzle, principalmente na infância, permite à uma criança utilizar e a trabalhar competências em diversas áreas. São elas:


Processamento tátil e motricidade fina:

Em primeiro lugar, para o manuseamento e descriminação das peças do puzzle ela precisa de usar o seu sistema sensorial tátil, aquele que permite sentir as formas e texturas das peças, e que servirá de base para que esta consiga participar na tarefa através do recrutamento de competências de motricidade fina. Embora não seja uma tarefa muito exigente do ponto de vista motor, implica uma boa motricidade fina e controlo motor dos membros superiores para a completar.

A motricidade fina é uma das grandes preocupações no desenvolvimento de qualquer criança. Trata-se de desenvolver funções motoras que envolvem músculos pequenos, nomeadamente os músculos dos dedos para que possam segurar e agarrar coisas, mesmo as mais pequenas. Os puzzles para criança promovem movimentos dos dedos que fortalecem os músculos ao agarrar as peças e colocá-las no lugar certo.

Estas competências para além de fundamentais para uma boa participação no brincar e nas atividades escolares, como na preensão do lápis. O resultado mais visível deste treino é a aprendizagem e desenvolvimento das habilidades de caligrafia. Implicam ainda na autonomia nas atividades da vida diária, como abotoar botões ou apertar os atacadores.


Processamento visual e coordenação oculomotora (olho-mão):

A coordenação olho-mão pode definir-se como a capacidade que permite realizar atividades nas quais se utilizam simultaneamente as mãos e os olhos. Utilizamos os olhos para focar a atenção e as mãos para realizar a tarefa. A coordenação mão-olho é uma função cognitiva, que guia os movimentos da mão de acordo com os estímulos visuais.

A imagem que se pretende completar num puzzle desafia essencialmente a perceção e o processamento visual, que implica a organização cerebral da informação visual dada pela imagem apresentada. O que impacta diretamente na coordenação oculomotora, uma vez que, os olhos ao verem o puzzle e a peça, enviam um sinal para o cérebro que começa a processar e descobrir onde a peça deve encaixar. Depois os olhos, o cérebro e as mãos trabalham juntos para encontrar os locais apropriados e encaixar a peça do puzzle.


Competências práxicas (ideação, planeamento motor e execução):

Os puzzles são jogos de resolução de problemas. As competências práxicas são aquelas que permitemplanear e executar determinada ação, estando presentes na execução eficaz de um puzzle. Os puzzles ensinam e fortalecem assim a sua organização, planeamento e sequenciamento de tarefas, essencial em todas as tarefas da vida diária.


Autoconfiança, permanência na tarefa, atenção e concentração:

Os puzzles também ajudam a ensinar paciência e autoconfiança, atenção e concentração. Resolver um puzzle leva tempo e esforço, e um puzzle completo oferece uma sensação de autoeficácia, especialmente em crianças. Os puzzles ensinam a criança a usar a mente para ajudar a descobrir onde a peça deve ir. Além disso, ensina-lhes paciência e tolerância à frustração. A maioria das crianças não consegue colocar a peça corretamente na primeira vez. Em vez disso, devem manipular a peça para encontrar o ajuste correto. Isso requer paciência e persistência. Aqueles com baixa tolerância à frustração tendem a ficar com raiva e muitas vezes atirar as peças, sendo necessários mecanismos de autorregulação para completar a tarefa.




Outros benefícios:

Quando se fala do desenvolvimento infantil, a construção de um puzzle pode ainda representar outros benefícios, tais como:


Estimular a curiosidade e aperfeiçoam o pensamento abstrato:

Os puzzles permitem que se usem diferentes habilidades de raciocínio, abstração e imaginação. Assim, de maneiras diferentes, vão encontrar as peças e colocá-las no sitio certo. Vão também descobrir uma peça especifica que precisam a seguir, seja um canto, uma peça de cor vermelha ou uma peça com um determinado recorte. O pensamento abstrato irá proporcionar uma maior capacidade de aprendizagem e de memorização, bem como melhoria dos processos de criatividade.


Promover a interação social:

O desenvolvimento intelectual ocorre em função das interações sociais. Os puzzles estimulam a trabalhar em cooperação com o objetivo de o completar, o que exige a comunicação entre os pares. Ainda que possa ser uma atividade solitária, quando realizado em conjunto, leva à interação.


Aumentar o vocabulário:

Os puzzles ajudam a promover, desde muito cedo, o desenvolvimento da linguagem e o processo de aquisição do vocabulário. Quando uma criança faz um puzzle e pede uma determinada peça, frequentemente descreve o que está à procura. Se o tema do puzzle é animais, números, formas, veículos ou cores, isso vai ajudar e incentivar à fala e à aplicação das palavras corretas que os identificam. Há mesmo fabricantes que colocam perguntas nas caixas sobre os respetivos puzzles, para colocar às crianças. O objetivo é esse mesmo, desenvolver o vocabulário e a fala. O uso de puzzles pode ainda ajudar a detetar eventuais perturbações na linguagem, conduzindo precocemente à sua resolução em conjunto com um especialista.

Tendo em conta os benefícios acima descritos, naturalmente a Terapia Ocupacional integra a utilização do puzzle na sua intervenção. Para cada etapa de desenvolvimento, existem puzzles mais adequados para cada criança, assim como na fase de envelhecimento e mediante as limitações existentes. É importante ter em conta alguns aspetos como o tamanho, a quantidade e os materiais e temas utilizados. Desde que exista um ambiente motivador, o objetivo passa por trabalhar as bases para uma participação autónoma e satisfatória nas atividades de vida diária.

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