A doença de Parkinson é uma doença do sistema nervoso que afeta o movimento e se desenvolve de forma progressiva. Pensa-se automaticamente em tremores incontroláveis das mãos, mas há mais sintomas associados à doença de Parkinson. Trata-se da segunda doença neurodegenerativa mais comum, e estima-se que afete cerca de 20 mil portugueses.
À escala mundial, estima-se que existam 7 a 10 milhões de indivíduos com Parkinson. A sua prevalência aumenta com a idade, considerando-se rara antes dos 50 anos, e mais comum nos homens do que nas mulheres. Contudo, em 5% dos casos, a doença de Parkinson surge antes dos 40 anos.
É uma doença neurológica causada pela morte das células produtoras de dopamina, na zona do cérebro designada de substância negra. A dopamina é importante para transmitir sinais entre a substância negra e as outras áreas do cérebro, que são responsáveis por produzir movimentos suaves e coordenados. A causa da morte das células pode ter várias possibilidades, não existindo ainda uma origem concreta/objetiva. Desse modo, é importante estar atento aos primeiros sinais da doença de Parkinson.
Os sintomas
Os sinais e sintomas da doença de Parkinson podem variar muito de pessoa para pessoa. Os primeiros sinais podem ser suaves e podem passar despercebidos. O primeiro sinal da doença é, de um modo geral, um tremor ligeiro numa mão, braço ou perna. Este tremor ocorre quando a extremidade afetada está em repouso, mas que pode aumentar em momentos de maior tensão. No entanto, nem todos os doentes com Parkinson têm tremor, e há outros sinais clínicos iniciais associados à doença:
Bradicinésia, ou seja, a diminuição progressiva da velocidade e amplitude dos movimentos alternados e repetidos;
Rigidez, isto é, o aumento do tónus muscular, e;
Instabilidade postural e alterações de marcha.
Com o passar do tempo, os sinais agravam-se lentamente e podem surgir outros sintomas, dos quais se destacam:
Dificuldade em manter o equilíbrio;
Dificuldade na fala e deglutição;
Alterações cognitivas.
Além disso podem também surgir sintomas não motores como:
depressão, ansiedade, psicose, apatia e fadiga;
queixas gastrointestinais, como disfagia, enfartamento e obstipação;
retenção ou urgência urinárias, disfunção sexual, hipersalivação, hipersudorese, hipotensão ortostática;
manifestações sensitivas como hiposmia e dor;
manifestações visuais como alterações da perceção do contraste, ilusões e alucinações visuais (que podem ser complexas e bem formadas, como pessoas);
distúrbios do sono com sonhos vívidos e atividade hiper motora noturna na perturbação do comportamento do sono, hipersonolência diurna e síndrome das pernas inquietas; entre outros.
A reabilitação na Doença de Parkinson
A doença de Parkinson não tem cura mas existem formas terapêuticas para minimizar os sintomas e permitir uma melhoria da qualidade de vida. A cirurgia pode ser aconselhada em casos mais severos, com o objetivo de melhorar a estimulação cerebral e combater o tremor essencial. O tratamento da doença de Parkinson deve ser individualizado e pode envolver a necessidade de uma equipa multidisciplinar como complemento a estas intervenções. Pode ser recomendada a realização de fisioterapia, terapia da fala, terapia ocupacional e apoio psicológico, de modo a ajudar o doente a melhorar a sua atividade funcional diária. O objetivo global é potenciar a qualidade de vida através de cuidados específicos para doença de Parkinson, com múltiplos profissionais da saúde que se complementam. Uma equipa multidisciplinar intervém ainda junto da família e dos cuidadores no processo de reabilitação, promovendo estratégias de ensino e aceitação.
O papel da fisioterapia
O exercício e os programas de fisioterapia podem ajudar os doentes a melhorar a sua mobilidade e flexibilidade e tem demonstrado eficácia na melhoria e no retardar de alguns sintomas. A intervenção em fisioterapia tem como principais objetivos melhorar o padrão de marcha, o equilíbrio, a coordenação motora, as transferências de carga e a postura. Um fisioterapeuta pode também contribuir para melhorar a funcionalidade dos membros, a função cardiorrespiratória e diminuir a dor neuropática nos casos que se justifique. Desse modo, permite reduzir as limitações causadas pela rigidez, lentidão dos movimentos e alterações posturais, diminuir o risco de queda, prevenir complicações associadas à inactividade, melhorar/manter a capacidade física, diminuir as limitações funcionais, promover a independência e o aumentar a qualidade de vida.
O papel da terapia da fala
Na doença de Parkinson é comum existirem alterações de fala. Além disto, o terapeuta da fala pode intervir nas dificuldades de deglutição, salivação excessiva, alterações vocais e articulação verbal decorrentes das alterações provocadas pela doença. Geralmente, a primeira alteração que surge nesta doença é a alteração de voz, sendo caracterizada por uma reduzida intensidade vocal. Observa-se uma perda da entoação melódica, uma fala monótona e com intensidade baixa e uma produção de palavras variável. Numa fase avançada, a doença pode provocar alterações cognitivas e como tal também a linguagem pode sofrer alterações. Posteriormente, começa a existir uma diminuição na mobilidade dos músculos orofaciais e como consequência surgem as alterações na mímica facial, interferindo na comunicação e na articulação verbal. Ao longo do tempo, as alterações de comunicação oral podem afetar de forma significativa a qualidade de vida do doente. Podem conduzir ao isolamento social, diminuir a autoestima e levar à perda de interesse em comunicar.
O papel da terapia ocupacional
Na doença de Parkinson, a mobilidade pode tornar tarefas simples como vestir ou tomar banho em atividades muito mais complicadas. A limitação das capacidades condiciona significativamente a autonomia e o envolvimento. A terapia ocupacional pode ajudar a desenvolver as competências necessárias para a vida diária. Um terapeuta ocupacional também pode fazer o aconselhamento de ajudas técnicas e produtos de apoio que permitem a autonomia; desenvolver de actividades terapêuticas que estimulam motora e cognitivamente o utente, com o objectivo de retardar o desenvolvimento da doença; bem como a adaptação do ambiente, de forma a promover a segurança e autonomia no domicílio.
O papel da psicologia
Os sintomas e as consequências da doença de Parkinson podem causar um grande impacto psicológico nos utentes. É comum que os utentes se sintam deprimidos, podendo surgir sentimentos como raiva, frustração e de negação. O psicólogo poderá contribuir na aceitação da patologia, quer por parte do utente como dos seus familiares e cuidadores bem como ajudar a adaptarem-se às mudanças necessárias. Nesse sentido, o acompanhamento psicológico é fundamental para melhorar a qualidade de vida. Além da psicoterapia, a intervenção farmacológica com medicamentos ansiolíticos e/ou antidepressivos pode ser um grande auxílio para melhorar o estado emocional do utente.
O papel do cuidador
Cuidar de alguém com a doença de Parkinson requer paciência, compreensão dos sintomas, reconhecimento da importância do timing dos medicamentos e a capacidade de fornecer apoio de forma contínua. Há a necessidade de ir adaptando o ambiente e as rotinas diárias, porque a saúde e as capacidades do doente vão mudando à medida que a condição progride. Em alguns dias, será necessário ajudar nas tarefas diárias. Noutros, basta estar presente e dar tempo para que as tarefas sejam feitas pelo próprio doente.
O papel do cuidador é fundamental para promover e melhorar a qualidade de vida do doente na sua residência, adiando uma possível institucionalização. Existem associações, como a Associação Nacional de Doentes de Parkinson que disponibiliza informação útil aos doentes e cuidadores.
Aprenda o mais possível sobre a doença, tire todas as dúvidas com os profissionais de saúde envolvidos;
Incentive a independência, respeitando as limitações;
Promova trocas afetivas, cuidados mútuos e uma comunicação franca;
Faça atividades relaxantes para reduzir o stress e estimule a criatividade;
Cuide de si mesmo, se sentir sobrecarregado procure apoio em grupos de cuidadores.