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Tive um AVC e agora? Cuidados essenciais na recuperação

O Acidente Vascular Cerebral (AVC) é atualmente a principal causa de morte e incapacidade permanente em Portugal. A cada hora, três portugueses sofrem um acidente Vascular Cerebral, um deles não sobrevive, e metade dos sobreviventes ficam com sequelas incapacitantes. Cada AVC é único, cujos sintomas e causas podem variar de pessoa para pessoa, mas a doença tem tendência a afetar as pessoas de forma comum.


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O AVC ocorre quando problemas na irrigação sanguínea do cérebro causam a morte de células. Aa lesão das células cerebrais, que morrem pela ausência de oxigénio e de nutrientes, faz com que partes do cérebro deixem de funcionar devidamente.


Sinais de alerta de um AVC:


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Os sinais surgem de forma súbita, mas é possível reconhecer um AVC recorrendo à regra dos três F’s. Estes sintomas podem surgir de forma isolada ou em combinação:

  • Face: sensação de “boca ao lado”, desvio da face;

  • Força: um braço ou uma perna perderem subitamente a força ou ocorrer uma súbita falta de equilíbrio;

  • Fala: pode parecer estranha ou incompreensível e o discurso não fazer sentido.

Também podem ser sinais de um AVC a perda de visão de um ou de ambos os olhos ou a visão dupla, e uma forte dor de cabeça súbita e muito intensa, diferente do padrão habitual e sem causa aparente.

Se reconhece estes sinais, pode confirmá-los, pedindo à pessoa afetada para sorrir, dizer uma frase ou levantar os braços. Se um dos lados da face estiver descaído; um dos braços cair, sem força ou tiver dificuldade em falar e as suas respostas forem incoerentes é motivo para pedir ajuda.

A identificação precoce dos sinais de alarme e o rápido contacto para o 112, que disponibilizará meios de auxílio específicos e transportará o utente ao hospital proporcionam um tratamento atempado e adequado, diminuindo a probabilidade de morte ou de incapacidade grave.

A janela de oportunidade para o tratamento dura apenas 4h30m. Durante este tempo poderá ser possível injetar na veia um produto (trombólise) que ajuda a desfazer o trombo que obstruiu uma artéria cerebral ou até fazer um cateterismo. Quando cumpridos, estas abordagens aumentam em 30% a 50% a hipótese da pessoa conseguir sair ilesa ou com sequelas menos significativas.

Como resposta, há atualmente, em vários hospitais, a existência da Via Verde de AVC, que pressupõe que quando o doente chega ao hospital as equipas já estão preparadas para intervir de forma rápida de forma a minimizar as sequelas.


Isquémico vs hemorrágico:

O AVC pode ter duas naturezas. Pode ser isquémico, quando há a obstrução da artéria, impedindo a passagem de oxigênio para as células cerebrais, que morrem. Este bloqueio pode dever-se a uma trombose (quando se forma um coágulo no interior de uma artéria cerebral) ou a uma embolia (quando um coágulo pré-existente é transportado pela circulação sanguínea). Ou hemorrágico quando há o rompimento de um vaso cerebral, ocorrendo um sangramento - hemorragia - em algum ponto do sistema nervoso. 85% dos casos são isquémicos.

Existe ainda o ataque isquémico transitório (AIT), causado por um bloqueio pequeno e temporário num vaso sanguíneo no cérebro. É uma condição neurológica súbita, de curta duração. Apesar de um AIT em si não causar danos permanentes ao cérebro, é um sinal de alerta. Ter tido um AIT aumenta o risco de outros acidentes vasculares cerebrais. É importante ter atenção especial a alta pressão arterial, altos níveis de colesterol, fibrilação atrial e diabetes.


A recuperação de um AVC:

O processo de reabilitação começa no momento em que o utente é admitido no hospital. A prevenção de complicações começa na fase aguda com aplicação de medidas para evitar o tromboembolismo venoso, a identificação precoce de existência de disfagia (dificuldade em engolir) e o controle dos valores de pressão arterial e glicemia.

Os primeiros três meses de recuperação após um AVC são fundamentais. Durante este período o cérebro pela sua capacidade plástica pode recuperar algumas das funções perdidas devido ao derrame. Para o sucesso da reabilitação, a intervenção profissional e a envolvência de uma equipa multidisciplinar, bem como alguns cuidados básicos são essenciais. A envolvência e o ensino do utente, da família e dos cuidadores ao longo de todo o processo é fundamental para a obtenção de melhores resultados.


Reabilitação:

No entanto, deve ser cuidadosa­mente estabelecido um pla­no de reabilitação para cada doente de acordo com uma avaliação específica, individualizada, atenta e pondera­da das áreas afetadas. Pode estar afetada a capacidade de falar, de escrever, de conhecer objetos, de se orientar no espaço, de me­mória, de atenção, a força ou a sensibilidade, a mar­cha e as alterações emocio­nais – como a ansiedade e a depressão – que podem ser uma consequência direta da lesão. Esse plano define as estratégias de tratamento – medicação, procedimentos cirúrgicos ou tratamentos de fisioterapia e outras terapias.

Uma intervenção multidisciplinar é particularmente importante neste processo, de modo a assegurar que são feitos os esforços necessários para recuperar tanto quanto possível as funções que sofreram lesões. Essa abordagem garante a continuidade dos tratamentos dos utentes com indicação para este tipo de cuidados.


Adaptação:

Após a fase aguda e a alta hospitalar, existe ainda um longo caminho para os doentes que sofreram um AVC. Um dos cuidados pós AVC é a avaliação das condições ao nível da habitação. É muito importante criar um ambiente acolhedor, com o mínimo de dificuldades possível e minimizar as barreiras arquitectónicas. Identificar as correções e adaptações necessárias para tornar o domicílio seguro e funcional. Após o regresso a casa é importante o papel do cuidador dedicado, que garanta a terapêutica e motive o utente a colaborar com o programa de reabilitação, previamente definido. É essencial, também, que o cuidador ajude na modificação do estilo de vida, fundamental para controlar os fatores de risco vascular.

O AVC pode ser evitado em cerca de 80% dos casos, e é importante evitar a sua recorrência. Existem alguns fatores em que não há possibilidade de intervenção como a genética, a idade ou o género. Mas importa controlar a pressão arterial, tratar a diabetes; adotar uma alimentação saudável, pobre em gorduras e sal; praticar exercício físico regularmente; não fumar, não consumir bebidas alcoólicas, para reduzir o risco de sofrer um novo episódio.


Outras dicas essenciais para os cuidadores:

Cuidar de um membro da família que sofreu um AVC pode ser uma tarefa difícil, desgastante física, mental e emocionalmente.

  • Tire todas as suas dúvidas com o profissionais de saúde responsável;

  • Estimule e incentive o utente através da voz, da visão, do toque, sempre do lado afetado;

  • Estimule a paciência, medindo os progressos da recuperação a cada semana e explicando a finalidade e os benefícios do pedido;

  • Integre o utente nas atividades da vida diária (higiene, alimentação e vestuário), estimulando o utente a usar e a tocar no seu lado afetado;

  • Preste atenção às mudanças de humor súbitas e à tendência para a depressão;

  • Evite comparar a recuperação de diferentes doentes;

  • Cuide de si mesmo, se sentir sobrecarregado procure apoio em grupos de cuidadores.

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